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A Filosofia do Amor

Muitos sabem que os filósofos discutem sobre a liberdade, existência, Deus, conhecimento…Mas poucos sabem que a filosofia abrange também o amor e a sexualidade. Desde Foucault à Jesus, sexo e amor são coisas que trazem várias perguntas filosóficas.
Acho que a pergunta mais básica, que pode ser feita com qualquer outra pergunta na filosofia, é, “qual é a definição do amor?” O que queremos dizer quando dizemos que amamos tal pessoa? Até onde vai o amor, e ele tem barreiras? Amor é algo metafísico? Ou é apenas uma química no cérebro…Enfim, como qualquer palavra ampla, amor tem uma semântica gigantesca.
Os gregos do período Helenístico (isso é, depois do Alexandre o Grande) tinham três palavras diferentes para o que nós podemos pensar que seja três tipos diferentes de amor: φιλíα (philia), αγάπη (agape) e ἔρως (eros). Philia refere à amizade. Agape é o amor fraterno e amor cristão. Eros é o amor sexual. De todos esses o que eu acho mais interessante (e complexo) é o amor agape.
Essa palavra também foi o termo usado pelos escritores do novo testamento para o que acabou sendo chamado de “amor cristão”. (Em latim o termo é caritas; na versão do rei James (que traduziu a Bíblia pro inglês) foi traduzido para “caridade”). Em contraste com a forma mais alta da philia segundo Aristóteles (admiração e estima), não há nada abstrato e impessoal sobre agape; é um amor que pode ser dirigido até a alguém que é conhecida por ter muitos defeitos no caráter. Agape no sentido pré-Cristão, dos gregos helenísticos, significava “benevolência refletida, puro e simples, não possessivo e independente da resposta do seu objeto”.
Amar outra pessoa nesse sentido é ter um desejo constante e disposição para promover o bem estar do outro, defender os interesses dele ou dela, e protege-lo(a) de qualquer perigo, qualquer que seja as conseqüência para a própria pessoa. (Kant já tem uma lei moral diferente, no qual ele diz que nós temos que fazer tudo para ajudar o próximo ao menos que não nos cause muito dano, ele diz que nós temos uma obrigação com nós mesmos do mesmo jeito que temos com os outros, e fazer algo que nos causaria mal é tão imoral quanto fazer algo que causa mal a outra pessoa). Muitos teologistas morais e cristãos têm feito essa prontidão de se sacrificar para a parte amada no sentido de agape. (O Nietzsche tem muitas teorias interessantes sobre sacrifícios e martírio). Interpretada pelos cristãos desse jeito, agape é a palavra traduzida como “amor” nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João (os evangelhos sobre a vida e ensinamentos de Jesus).
A idéia básica de agape é familiar o bastante. Algumas vezes pais, esposos(as), e outras pessoas, amam tanto umas as outras que é impossível separar os interesses do amado deles próprios; o que causa dano em um inevitavelmente causa dano ao outro. Doutrinas cristãs sobre agape, porém, despertam vários enigmas filosóficos que ainda dividem teologistas morais e que têm levado a refinamentos e complicações sobre o conceito cristão de agape.
Um enigma é como amor pode ser comandado. Se agape é uma paixão, emoção, ou sentimento, então pareceria que nós não conseguiríamos simplesmente desejar te-lo, como num ato de obediência. Ninguém tem controle sólido sobre seus sentimentos (é por isso que a “promessa” de “amar até a morte” acaba muitas vezes em divórcio). Do outro lado, se agape é simplesmente uma disposição obediente de fazer bem aos outros, então é um amor que pode ser totalmente sangue frio e insensível; como fazer lição de matemática por obrigação. Ajudar os outros meramente por causa de um sentimento de obrigação é o tipo de coisa que é normalmente o contrário de agir com amor.
Outro enigma parecido é se agape pode ser atribuído a todos igualmente (se posso amar todo mundo do mesmo jeito, com a mesma intensidade). Nós podemos respeitar os direitos de todo mundo igualmente, podemos desejar que todos sejam tratados de uma maneira justa e decente, mas aí respeito é algo normalmente tido como muito diferente de amor. Uma pessoa pode respeitar o direito humano de uma pessoa cruel a qual se odeia, e agir de acordo, mas uma pessoa não pode odiar e amar (no sentido comum) ao mesmo tempo.
Logo agape é um mistério (bem polêmico por sinal). Segundo Nietzsche ele não existe, como toda moralidade. Kant explica agape com lógica, uma lógica quase sem metafísica. Freud já tem outra opinião. Sartre não se importaria se nós amassemos ou não, o que importa é a ação, se nós agimos bem, somos bons, mas é lógico que Sartre também não acredita num céu. Para quem acredita, acho que o sentimento genuíno é muito diferente de uma ação por medo de punição, ou obediência. Amor, palavra com uma semântica tão grande quanto o universo.
Autoria de Beatriz Moreira

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